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A emergência global da pandemia do COVID-19 nos confronta com situações imprevisíveis e perturbadoras que mudaram nossas vidas diárias, economias, decisões políticas e universidades. Mudanças importantes foram feitas em termos de ensino on-line, horários de admissão e exames e estimularam discussões sobre a aparência de um cenário universitário pós-coronavírus.

Em meio a toda incerteza e choque, as universidades são obrigadas a manter seus valores básicos e responsabilidades éticas, que dão aos académicos um senso de direcção e credibilidade. As dez questões éticas a seguir são válidas em todos os continentes e sistemas políticos, de acordo com nossa rede global de ética Globethics.net.

Ética sob ordens de emergência

Ordens de emergência, que foram usadas em muitos países pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, foram necessárias e deram poderes muito maiores aos governos nessa guerra global contra um inimigo comum, um vírus.

As fronteiras estão fechadas, as pessoas devem ficar em casa em “auto-isolamento” e muitas empresas e algumas universidades podem entrar em colapso se a ajuda financeira dos governos não for fornecida em breve. Valores como solidariedade são praticados de forma impressionante. A emergência não significa que a ética seja substituída e desactivada. Pelo contrário, eles são necessários mais do que nunca.

Líderes com integridade académica

Universidades e académicos são vistos como vozes credíveis e independentes. Essa integridade académica é ainda mais importante em situações de emergência. Os virologistas são as novas estrelas com suas análises. Pesquisadores trabalham dia e noite em vacinas e outras soluções; mas as ciências sociais e todas as outras disciplinas são necessárias agora para manter a integridade académica.

Provavelmente, a pressão para emitir certificados manipulados ou permitir que os alunos passem nos exames aumentará sob as regras de emergência devido às fortes pressões financeiras em todos os níveis. Situações extraordinárias precisam de soluções flexíveis em termos de tarefas, datas de admissão, horários académicos, exames e publicações.

 A probabilidade de estudantes perderem um semestre pode ser inevitável em alguns países, mas, mesmo em situações extraordinárias, a integridade acadêmica de professores, estudantes, pesquisadores e liderança da universidade deve ser mantida. A pandemia mostra a importância crucial e a necessidade de líderes com integridade, servindo honestamente às pessoas com poder a elas confiadas e não servindo principalmente a seus próprios interesses políticos ou econômicos.

Tratamento igual

 O ensino on-line é uma solução inteligente e é muito necessário. Muitas universidades desenvolveram soluções criativas a curto prazo, mas as queixas sobre desigualdade educacional, especialmente nos países em desenvolvimento, estão aumentando. A igualdade total pode não ser possível, pois as condições tecnológicas variam muito, mas todos os esforços possíveis para promover a igualdade de tratamento devem ser feitos.

Veracidade em um infodêmico

“Factos, não tema” é uma mensagem fundamental de nossos governos. Nós, como académicos, somos colaboradores cruciais do diálogo factual e devemos resistir à pressão ideológica. Após a crise e, às vezes, no meio dela, os políticos são tentados a reinterpretar fatos e reescrever a história, a fim de provar que tomaram as decisões corretas no momento certo para obter os melhores resultados para seu país.

Resistindo às teorias da conspiração

 Incerteza, falta de informação e / ou interesse político muitas vezes levam a todos os tipos de teorias da conspiração, como tem sido o caso na história. Por exemplo, durante a Peste Negra ou a Grande Praga do século 14, que matou muitos milhões de pessoas, os judeus foram bode expiatórios com falsas alegações de que haviam começado envenenando poços. Seguiram-se ataques violentos às comunidades judaicas e milhares de judeus foram assassinados.

 As teorias da conspiração estão circulando cada vez mais nas mídias sociais durante essa pandemia. Alguns veem o vírus como uma arma biológica de uma das superpotências que supostamente estão tentando destruir outras superpotências (advogados nos Estados Unidos lançaram uma ação coletiva contra a China buscando uma compensação de US $ 20 trilhões por danos causados ​​nos EUA); outros culpam a tecnologia 5G; outros veem algumas populações ou grupos étnicos como imunes ao coronavírus.

 O comportamento acadêmico ético significa resistir às teorias da conspiração por meio de cuidadosa pesquisa científica independente. As teorias da conspiração podem levar à perseguição de grupos políticos, étnicos e religiosos.

Construção de caráter e autoconfiança

 A lição de casa, o auto-isolamento e a comunicação exclusivamente on-line são experiências muito difíceis e se tornarão mais difíceis com as extensões prováveis ​​nos próximos meses. Eles mostram que a força social, emocional e mental é tão necessária quanto a capacidade intelectual. A construção de caráter e a autoconfiança estão se tornando uma parte cada vez mais importante da educação acadêmica.

A ética da dívida

 A extrema turbulência económica causada pela pandemia também levará a sérios desafios financeiros para estudantes e instituições de ensino superior. A ética financeira pós-coronavírus trará a necessidade de revisar criticamente o nível de endividamento acadêmico individual e institucional. Os tomadores de decisão políticos e económicos precisarão contribuir com soluções inovadoras para reduzir e compartilhar a carga desses efeitos económicos.

Globalização equilibrada

 A mobilidade estudantil diminuiu e o proteccionismo nacional aumentou como resultado da pandemia. A globalização antes do COVID-19 era vulnerável por causa de sua interconectividade. As restrições de viagens e comércio mostram que não podemos depender apenas de uma economia global; também precisamos de cadeias de suprimentos locais e regionais. Por outro lado, o mundo cibernético e a conectividade com a Internet oferecem maneiras de se adaptar rapidamente a novas situações.

 Vamos aprender com esta pandemia como alcançar um equilíbrio saudável entre economias globalizadas e localizadas. O trabalho acadêmico deve estar conectado globalmente, mas de maneira sustentável. A pandemia também confirma o papel fundamental de instituições multilaterais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), mas também de instituições e redes acadêmicas multilaterais.

As religiões importam

 A maioria dos humanos se descreveria, de certa forma ou de outra forma, como religiosos e seus valores e ética vêm de sua fé. A parte religiosa da existência precisa ser integrada ao mundo acadêmico – com objetividade científica e abertura.

 Fundamentalismos religiosos e falsos profetas (de negação, banalização ou exagero apocalíptico da pandemia) precisam ser abordados para dar respostas éticas sólidas – possivelmente informadas pela religião – aos desafios atuais.

Solidariedade e velocidade ao abordar os ODS

 Essa pandemia mostra que a humanidade é capaz de se unir – apesar do interesse nacional justificado – e de agir com rapidez e determinação. Essas características geralmente estão ausentes quando enfrentamos outras ameaças globais.

 A mudança climática é um processo tão dramático quanto a pandemia, que custará ainda mais vidas, mas está ocorrendo a um ritmo mais lento e, portanto, falta a vontade política de agir a tempo. Milhões de crianças morrem todos os anos de fome e devido à falta de água potável – por que não agir com a mesma determinação e rapidez no que diz respeito à ação climática e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?

 Trilhões de dólares foram aprovados em poucos dias para apoiar as vítimas da pandemia e estabilizar a economia. Por que não para alcançar os ODS?

O professor Dr. Christoph Stückelberger é presidente e fundador da Globethics.net, uma rede global de ética com foco em ética no ensino superior e está sediada em Genebra, na Suíça. Ele também é professor visitante de ética na Nigéria, China, Rússia e Reino Unido.