Um artigo publicado na plataforma digital de notícias, Quartz, intitulado “You probably should have majored in computer science”, incentiva os jovens a iniciar estudos em Ciência da Computação (ou Informática) em particular, e em disciplinas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, em Inglês) em geral, dado o enorme diferencial entre os empregos por preencher no mercado e a actual disponibilidade de licenciados na área. No ano de 2015 houve um total de 59581 licenciados contra 527169 postos de trabalho.
A evidência é clara: à medida que vivemos cada vez mais cercados por dispositivos programáveis, que definem o nosso ecossistema mais claramente e como realizamos mais e mais tarefas, a procura por profissionais capazes de lidar com essa nova realidade cresce incessantemente.
Será que isso significa que devemos ter cada vez mais jovens a optar por estudar Ciência da Computação? De facto, trabalhos que exigem habilidades dentro das chamadas disciplinas STEM mostram um crescimento de mais do que o dobro em relação a outros, e estão entre os mais bem pagos, mas a conclusão não é tão simples. Primeiro, porque a estrutura de muitos desses estudos está longe de ser perfeita, ela evoluiu muito pouco ao longo das últimas décadas em termos de conteúdo e de metodologia, e como tal está muito longe do que o mercado parece exigir. E em segundo lugar, porque quando tudo é dito e feito, a sociedade precisa de profissionais de muitos tipos e com habilidades variadas.
Faz sentido um futuro em que todos se dediquem à computação? Obviamente não. Faz todo o sentido que a demanda por esses empregos cresça, dado que a tecnologia evolui e ocupa um espaço maior nas nossas vidas, mas não faria sentido que todos os postos de trabalho fossem preenchidos por formados em Ciência da Computação. O que acontece, porém, é que a as Ciências da Computação estão a incorporar-se de forma natural em mais e mais disciplinas profissionais: o trabalho do biólogo, do médico, do arquitecto ou do agricultor do futuro tem, sem dúvida, uma componente tecnológica cada vez mais importante e essa componente exige cada vez mais o desenvolvimento de competências necessárias não só enquanto simples usuários, mas também para a sua conceptualização (na construção de conhecimento).
A solução está, sem dúvida, em incorporar a STEM na educação a todos os níveis. A grande procura por profissionais de STEM não se reflecte só na necessidade de trabalhadores dedicados estritamente às STEM, mas também na falta de diplomados de muitas outras áreas com conhecimentos operacionais suficientes para desenvolver adequadamente os seus trabalhos.
A formação de um fazendeiro tem estado tradicionalmente muito distante das disciplinas de STEM, e hoje em dia, para uma agricultura eficiente, é preciso lidar com as tecnologias que vão desde tractores autónomos a drones, através da sensorização, planificação de produção ou de criação de redes de produtores como a Farmers Business Network (FBN), uma iniciativa da Google Ventures. E se isso acontece numa actividade supostamente tão tradicional como a agricultura, o que dizer de outras áreas? Na medicina, os médicos que realizarem procedimentos cirúrgicos através de um sistema de assistência robótica, terão certamente mais vantagens sobre os que fizerem de maneira tradicional, e embora a disciplina ainda esteja em fase de tecnologias proprietárias e não modificáveis, em breve, chegar-se-á à fase em que o próprio médico poderá definir e parametrizar as suas necessidades através da interacção com a máquina.
Da mesma forma, indo para uma área pouco suspeita de interacção com a Ciência da Computação, um licenciado em Direito deverá ser capaz de entender como interagir com sistemas de inteligência artificial como o Ross, capaz de marcar hoje em dia uma grande diferença relativamente ao tempo de preparação de um julgamento. A incorporação da tecnologia acontece num elevado número de áreas, no entanto, a procura por profissionais deve ser satisfeita não só pela criação de mais licenciados em STEM, mas também pela integração de STEM noutras áreas, sobretudo integrando a sua aprendizagem nos primeiros níveis de ensino.
No momento em que a educação for separada da realidade do mundo em que vivemos, a sociedade passará a ter um grave problema de adaptação. Não se trata de aprender "novas tecnologias" (quanto mais tempo continuaremos a usar esse termo, já que actualmente todos usamos as "novas" tecnologias?), mas, integrá-las normalmente no processo educativo em todos os níveis. Nenhum currículo de educação deve ser considerado completo ou adequado sem a necessária incorporação das Ciências da Computação, sem entender como a tecnologia pode afectar o desenvolvimento desta actividade no futuro e sem preparar profissionais para isso. Precisamos de mais licenciados em STEM, mas também mais matérias de STEM em todos os graus, em todos os níveis. Mais STEM, sim, sem dúvida. Mas também muito mais integração.
Artigo Original:
Por Enrique Dans
Senior Advisor for Innovation and Digital Transformation at IE University
Linkedin, 12 de Março 2017
https://www.linkedin.com/pulse/computer-science-stem-integration-enrique-dans (em inglês)
https://www.enriquedans.com/2017/03/computacion-stem-e-integracion.html (em espanhol)