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Conselho de Pesquisa Europeu (ERC) e Delegação da União Europeia realizam dois Webinar de 10 a 11 de Novembro - Participe!!!

O Conselho de Pesquisa Europeu (ERC) em colaboração com a Delegação da União Europeia para a União Africana, realizam de 10 a 11 de Novembro de 2020, dois (2) Webinars ERC (um em inglês e outro em francês), para investigadores africanos interessados em candidatar-se a um Bolsa ERC.

O Presidente do ERC, Jean-Pierre Bourguignon, seus beneficiários e avaliadores fornecerão informações sobre oportunidades de financiamento e alguns conselhos úteis sobre como se inscrever para aquisição de uma bolsa do ERC. Ambos os webinars incluirão uma sessão de perguntas e respostas para melhor interacção entre os participantes e os oradores.

Para aceder aos webinars, clique no seguinte link: https://erc.europa.eu/event/european-research-council-webinars-researchers-africa-erc-grant-schemes-grantees-experiences

 

O SARS-COV-2 e os Ambientes de Risco: Síntese de Evidências

António de Alcochete1 e Emanuel Catumbela2

1Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências – Universidade Agostinho Neto, Email: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.(ORCID 0000-0002-7805-0193);
2 Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina – Universidade Agostinho Neto, Email: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. (ORCID 0000-0002-3289-2643)

 

Introdução

A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 que apresenta um grande espectro de dispersão geográfica. Segundo a organização Mundial da Saúde, até 25 de Julho de 2020, haviam 15.581.009 casos confirmados, dos quais 653.173 mortes, registados nas Américas, Europa, Sudoeste da Ásia, Mediterrâneo oriental, Africa e na região do Pacífico Ocidental. Estas regiões reflectem grande variação de parâmetros climáticos e atmosféricos aos quais o SARS-CoV-2 tem sobrevivido com facilidade e manifestado a sua grande capacidade infecciosa, no Homem (https://www.worldometers.info/coronavirus/).

A forma, rapidez e facilidade com que o vírus se propaga leva a pensar que o ambiente tem um papel importante. Decerto que a contaminação de várias superfícies, o tempo de sobrevivência e a capacidade infecciosa do vírus são questões relevantes para as estratégias de prevenção contra a COVID-19 e, portanto, necessárias conhecer sobretudo, dentro de infra-estruturas que albergam muitas pessoas e em locais onde as condições sanitárias e de saúde pública são precárias.

Assim, este artigo tem como objectivo sintetizar evidência do comportamento ambiental do SARS-CoV-2 e levar ao conhecimento da sociedade os potenciais ambientes de risco.

 

Os ambientes de potencial contaminação da COVID-19

Vários são os ambientes em que ocorre a contaminação da COVID-19, sendo que a presença do vírus SARS-CoV-2 tem sido detectada em superfícies sólidas, líquidas e no ar (Casanova et al., 2009; Carraturoet al., 2020; Chenet al., 2020; Chin et al., 2020; Chu et al., 2005; Collivignarelliet al., 2020;  Duet al., 2020; Foladoriet al., 2020; Guet al., 2020; Huang et al., 2020;Jayaweeraet al., 2020; OMS, 2020); Onget al., 2020; Parket al., 2020; Peng et al. 2019; Rahmaniet al., 2020; Razziniet al., 2020;Tianet al., 2020; Y. Wu et al., 2020; Xiaoet al., 2020 eZhanget al., 2020;), incluindo alguma suspeição da sua presença nos alimentos (Bondad-Reantasoet al., 2020; Ceylanet al., 2020; Jefferson andHeneghan, 2020).

O ar como ambiente de contaminação da COVID-19

O vírus SARS-Cov-2 é uma partícula do tamanho que varia entre 0.004 a 1.0 µm, porém, no ambiente, encontra-se comumente associado a outras partículas complexas, de maior tamanho, agregadas a água, sal e proteínas (Dietzet al., 2020).

A forma mais comum de transmissão do vírus tem sido o ar de ambientes contaminados por pessoas infectadas, assintomáticas ou sintomáticas, principalmente os quartos de hospitais ou centros de quarentena, residências, escritórios, refeitórios, bares restaurantes, mercados, padarias, transportes, privados ou públicos, salas de convívio, salas de aulas ou creches. Nesses locais, o ar contaminado por tosse ou espirros, contém partículas com o vírus que são absorvidas por pessoas não doentes. A absorção das partículas pode ser directa, por contacto entre pessoas, ou indirecta, por contacto com superfícies no ambiente imediato ou com objectos usados pela pessoa infectada (Carraturoet al., 2020;Jayaweeraet al., 2020; OMS, 2020)(Figura 1).

 


Figura 1 – Exemplos de potenciaislocais de risco de contaminação da COVID-19, se nãoforemobservadasmedidas de biossegurança (Fonte: Buonnannoet al., 2020).

Jayaweeraet al., (2020) fizeram uma revisão bibliográfica sobre a transmissão de gotículas de vírus e aerossóis em diferentes contextos ambientais bem como sobre o comportamento de gotículas e aerossóis resultantes de uma pessoa infectada em vários espaços confinados, tendo concluído que a transmissão aérea desempenha um papel crítico na infecção de pessoas confinadas e que, nos hospitais ou centros de saúde, pode ocorrer a transmissão por aerossóis transportando o SARS-CoV-2. Segundo a OMS (2020), a transmissão do vírus via gotículas ocorre quando uma pessoa está em contacto próximo (entre um metro de distância) com alguém com problemas respiratórios (tosse e espirros) próximo, e portanto, corre o risco ter a sua boca, nariz ou os olhos expostos à essas gotículas (>5-10 µm de diâmetro), potencialmente infecciosas. A transmissão área do vírus refere-se a transmissão de gotículas, com menos de 5 µm de diâmetro, contendo vírus nos seus núcleos e que resultam da evaporação de gotículas maiores ou de partículas de poeira, podendo permanecer no ar até 4,5 horas e ser transmitidas a distâncias superiores a um metro.

Esse modo de transmissão foi estudado em 2005 por Chu et al.que entre outros achados observaram a presença do vírus SARS na nasofaringe de pacientes de um complexo residencial de Hong Kong, bem como a presença do vírus, num nível inferior, em pessoas das redondezas do complexo (Chu et al.), sugerindo as partículas de aerossóis como principal meio de transmissão em que os espirros, os aerossóis, os fómites e roedores contaminados exerceram um papel importante na transmissão. Num outro estudo, Rahmaniet al. (2020) revelaram, via PCR, a presença do SARS-CoV-2 em amostras de ar colectadas em quartos de pacientes em hospitais, cuja potencial transmissão resulta de factores como a distância do paciente, o uso da máscara de protecção ou oxigénio dos pacientes, actividades do paciente, tosse e espirros durante a amostragem, movimento do ar, condicionamento do ar, tipo de amostrador, condições de amostragem e condições de armazenamento e transferência.

Em ambientes abertos, as condições meteorológicas e a poluição do ar impactam na transmissão do SARS-Cov-2, tendo sido confirmado por Zhanget al. (2020), uma relação não linear dose-resposta entre a temperatura e a transmissão do coronavírus e uma correlação positiva entre os indicadores de poluição do ar e os novos casos.

 

As águas como ambiente de contaminação da COVID-19

A água de consumo humano, quando contaminada, constitui um dos principais meios de transmissão de doenças no homem, pelo que o seu potencial na transmissão do SARS-CoV-2 tem sido estudado. A análise de amostras de águas, potável e de esgoto, têm indicado a presença do SARS-CoV-2, pelo que a águas contaminadas podem constituir-se em veículos para a exposição humana.

Carraturoet al. (2009) verificaram que os coronavírus permanecem na água potável e nas águas de esgoto durante semanas, sugerindo as águas contaminadas como potencial veículo para a exposição humana, em caso de produção de aerossóis. Por seu lado, Collivignarelliet al. (2020) detectaram a presença do SARS-CoV-2 em águas residuais e esgotos sugerindo um grande potencial de excreção do vírus via fezes e urina de doentes infectados. Os mesmos resultados foram achados por Chenet al., (2020) Guet al., (2020) Huang et al., (2020) Tianet al., (2020) Y. Wu et al., (2020) e Xiaoet al., (2020).

O consumo de água potável tem sido uma das grandes preocupações em países onde o acesso ao precioso líquido ainda não é uma realidade. O tratamento da água, alteração do pH pela adição de cloro ou filtração com carbono activado até aos níveis de qualidade para o consumo humano parece eliminar o SARS-CoV-2. Por outro lado, as águas residuais e os canais de transporte de água para irrigação ou pequenos córregos, que atravessam aglomerados populacionais e, servem indevidamente para depósito de lixo e descarte de águas residuais de várias fontes, tornam-se, por isso, um potencial meio de contaminação do SARS-CoV-2.

 

As superfícies sólidas como ambiente de contaminação da COVID-19

A par da contaminação pelo ar, as contaminações por contacto com superfícies sólidas constituem os principais meios de infecção pelo vírus SARS-Cov-2. Razziniet al. (2020) estudaram a transmissão do vírus SRAS-Cov-2 em infra-estruturas de saúde em Milão, Itália, e concluíram que amostras de zaragatoas e dispensadores de desinfectantes para as mãos, equipamentos médicos, telas de toque de equipamentos, grades de cama e maçanetas estavam contaminadas, sugerindo a necessidade de desinfecção intensa, higienização das mãos e medidas de biossegurança para os profissionais de saúde nos hospitais, centros de saúde ou locais de quarentena institucional. Onget al. (2020), num estudo sobre a contaminação do ar, superfícies e equipamento de protecção pelo SARS-Cov-2, a partir de pacientes sintomáticos, também revelaram uma extensiva contaminação ambiental fundamentada na presença do vírus em amostras de espirros, de vasos sanitários e de lavatórios.

Chin et al. (2020), num estudo sobre a estabilidade do SARS-CoV-2 à temperatura e superfícies, concluíram que os vírus, em condições in vitro, são estáveis a 4ºC e tornam-se instáveis a medida que a temperatura aumenta, atingindo a inactivação à temperatura de 70ºC, num tempo de 5 minutos. À temperatura ambiente de 22ºC e humidade relativa de 65%, não detectaram vírus infeccioso em madeira e vestuário tratado, mas verificam uma certa estabilidade do vírus em superfícies lisas (vidro, notas, aço inoxidável e plástico). Entretanto, o vírus infeccioso foi detectável na camada externa das máscaras cirúrgicas.

Por seu lado, Onget al. (2020) revelaram uma extensiva contaminação ambiental fundamentada na presença do vírus em amostras de espirros, de vasos sanitários e de lavatórios, num estudo sobre a contaminação do ar, superfícies e equipamento de protecção pelo SARS-CoV-2, a partir de pacientes sintomáticos.

As superfícies de contacto directo ou indirecto, em ambientes fechados ou abertos, imediato ou durante o tempo de sobrevivência do vírus em superfícies contaminadas por pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 são potenciais meios de transmissão do vírus entre humanos, sendo por isso imperioso o cumprimento das medidas de biossegurança estabelecidas pelas autoridades(Figura 2).


Figura2 - Conceptualização da deposição SARS-CoV-2. (a) Uma vez que um indivíduotenhasidoinfectado com SARS-CoV-2, partículasvirais se acumulamnospulmões e no tratorespiratório superior. (b) Gotículas e partículasviraisna forma de aerossóissãoexpelidas do corpopormeio de atividadesdiárias, comotosse, espirros e conversas, e eventosnãorotineiros, comovómitos, e podem se espalhar para ambientes e indivíduospróximos. (c e d) Partículasvirais, excretadas pela boca e nariz, sãofreqüentementeencontradasnasmãos (c) e podemserespalhadas para objectoscomumentetocados (d), comocomputadores, vidros, torneiras e bancadas. (Fonte: Dietzet al., 2020).

 

O sangue e as excreções humanas como contaminantes da COVID-19

O sangue, sendo o fluído corporal que percorre o sistema circulatório, podendo transportar o SARS-CoV-2, além de distribuir os nutrientes e oxigénio às células, transporta as excreções metabólicas para a sua eliminação do organismos. Assim, tem sido usado como o principal meio de testagem e exames epidemiológicos em muitas doenças, complementado com análises de urina e fezes.

Peng et al. (2019) detectaram a presença do vírus SARS-CoV-2 em amostras de urina, sangue e em zaragatoas anais e orofaríngeas. Esta é uma das poucas e raras referências relatando a presença do vírus em amostras de urina.

Chen et al. (2020),Collivignarelliet al.(2020),Guet al. (2020), Huang et al. (2020),Tianet al. (2020), Y. Wu et al. (2020),Xiaoet al. (2020) e Panet al (2020) ao analisarem, via RT-PCR, amostras diárias de esfregaço na garganta, escarro, urina e fezes obtidas de dois pacientes hospitalizados, verificaram que as cargas virais nas amostras de zaragatoa e escarro variaram entre 104 a 107 cópias por mL, durante o período de análise (5-6 dias após a manifestação dos sintomas) e nenhum RNA viral nas amostras de urina e fezes.

Foladoriet al. (2020) detectaram a presença do SARS-CoV-2 em fezes de pacientes infectados, levantando questões sobre o tratamento dos esgotos. Os autores consideraram a decrescente viabilidade do vírus devido a acção da temperatura, do pH, dos sólidos, dos micropoluentes, radicais livres de cloro e luz ultravioleta nas ETAR. Entretanto, em presença de condições sanitárias precárias, pode dificultar a adopção de estratégias de prevenção e combate ao vírus.

Parket al. (2020) investigaram a presença do SARS-CoV-2 em amostras gastro-intestinais de pacientes infectados assintomáticos ou sintomas leves, na Coreia, tendo concluído que o tracto gastro-intestinal pode ser uma via da transmissão do vírus e que, nesses pacientes, a quantidade de vírus de amostras respiratórias parecem similares a quantidade presente nas amostras de fezes. A maior persistência do vírus no tracto gastro-intestinal em relação ao tracto respiratório foi confirmada por Duet al. (2020) ao estudarem amostras fecais de crianças, no Hospital Jinam de Doenças Infecciosas, com recurso à RT-PCR.

Apesar da OMS (2020) reportar o contrário, parece existir suficiente evidências da presença do vírus SARS-CoV-2 em excreções humanas, como fezes e urina. Em países com o sistema sanitário débil, em que grande parte da população defeca e urina à céu-aberto, o SARS-CoV-2 pode ficar disponível no ar ou contaminar outros ambientes, constituindo assim um risco de transmissão do vírus para o homem.

 

Os alimentos como contaminantes da COVID-19

Na procura de alimentos, a população desloca-se aos bares, restaurantes, mini- e super-mercados, praças (mercados abertos) etc., criando um grande potencial de infecção, directa ou indirecta, pelo SARS-CoV-2. Por outro lado, a falta de higiene no manuseamento dos alimentos constitui um risco adicional de infecção pelo vírus.

Ceylanet al. (2020) ao estudar a relevância do SARS-CoV-2 na segurança e higiene alimentar, concluíram que pouca atenção tem sido dada a segurança alimentar e sua ligação potencial com a COVID-19, já que o vírus pode ser transmitido das pessoas para os alimentos. Estes autores sugerem o consumo de alimentos fervidos ou enlatados processados a altas temperaturas, a higienização de enlatados, bem como evitar a comercialização e consumo de alimentos exóticos. Adicionalmente, os autores sugerem uma revisão das práticas convencionais na indústria alimentar.

Por outro lado, Bondad-Reantasoet al. (2020) concluíram não haver evidências da infecção de animais aquáticos (por exemplo, peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios) pelo SARS-CoV-2 e, portanto, esses animais não desempenham um significante papel epidemiológico na COVID-19, sendo que a potencial contaminação resulta da acção de pessoas infectadas pelo vírus.

Entretanto, os autores recomendam o manuseio e saneamento adequado dos alimentos que constituem os meios de subsistência, segurança e nutrição para populações do litoral. Jefferson eHeneghan (2020) sugerem que os riscos de contaminação dos alimentos ou seu empacotamento estão ligados aos trabalhadores infectados, pelo que medidas de biossegurança devem ser rigorosamente implementadas.

Neste texto foi feita a apresentação de evidências sobre o SARS-CoV-2 e o ambiente, com o intento de influenciar a mudança de comportamento da sociedade através da identificação de ambientes de risco referenciadas na bibliografia consultada. Parecem não haver dúvidas sobre a presença do SARS-CoV-2 no ar, sobretudo nos locais de confinamento de doentes e de pessoas infectadas assintomáticas, tão alto é o nível de biossegurança imposto pelas autoridades sanitárias mundiais e nacionais. A obrigação de equipamento de biossegurança nos hospitais e locais de quarentena e o uso de máscaras, bem como o distanciamento de mais de um metro nos locais públicos reforça esta constatação.

As mudanças a serem feitas pelos decisores, assim como pelas pessoas de forma individual podem ser resumidas no seguinte: (1) em ambientes fechados, é preciso considerar a possibilidade da circulação do ar, com a abertura das janelas, a entrada dos raios solares para esterilização natural do ambiente. Onde possível, devem-se usar filtros de ar com o valor mínimo de relatório de eficiência (MERV) de oito ou acima, capazes de reter partículas do tamanho de 0,3 a 10,0 µm; (2) considerar a limpeza dos móveis usando álcool entre 60 e 75% capaz de aniquilar as partículas víricas que podem existir sobre as superfícies dos objectos. Estabelecer um plano de limpeza que privilegie os ambientes onde há mais pessoas, os locais com maior possibilidade de infecciosidade como maçaneta das portas, botões de elevadores, corrimão das escadas, etc.; (3) embora não se tenha evidência de infecção obtida pelo ambiente, não podemos descurar o distanciamento físico, o uso de máscaras em ambientes fechados com mais que uma pessoa. Há que reorganizar os espaços abertos de trabalho para evitar que pessoas possam ser factor de transmissão do SARS-CoV-2, auxiliado por um ambiente húmido, fresco e pouco arejado (Figura 3).

 



Figura 3 – Risco de contaminação por transmissão aérea de coronavirus, em partículas de aerossóis, em ambientes públicos e medidas de biossegurança recomendados (Fonte:Tanget al., 2020)

 

Em conclusão, o SARS-CoV-2 permanece viável no ambientee sobre as superfícies feitas de diferentes materiais entre horas e dias. A implementação de medidas específicas e dirigidas podem auxiliar a controlar a pandemia da COVID-19 que o mundo atravessa. Porém, há que reorganizar a vida dentro dos ambientes fechados, respeitar o distanciamento físico, manter a limpeza sistemática dos espaços mais movimentados com produtos que podem inactivar as partículas virais que eventualmente, possam permanecer no ar ou nas superfícies, fruto de tosse, espirro ou mesmo perdigotos de pessoas infectadas que estejam ou tenham estado no ambiente.

 

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Metabolitos Secundários de Plantas Medicinais como Potenciais Candidatos para o Tratamento da COVID-19

Armindo Paixão, Fernando Maia, Maurício Miguel, Aires Walter e Cristóvão Simões
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade José Eduardo dos Santos

 

INTRODUCÃO

A humanidade passou por várias pandemias ao longo da história, onde algumas foram mais desastrosas do que outras para os humanos. No final de 2019, um novo coronavírus foi identificado como a causa de um conjunto de casos de pneumonia em Wuhan, uma cidade na província de Hubei, na China. Este, espalhou-se rapidamente, resultando em uma epidemia em toda a China, seguida por um número crescente de casos em outros países do mundo (Mclntosh, 2019).

Em Fevereiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde designou a doença como COVID-19 (Coronavirus deseases-19)(OMS,2020). O vírus que causa a COVID-19 é designado por coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), anteriormente, referido como 2019-nCoV (Mclntosh, 2019).Segundo estudos realizados pelo grupo de estudo dos coronavírus (CSG) do Comité Internacional de Taxonomia dos Vírus (ICTV), o SARS-CoV-2 é classificado como um vírus pertencente a ordem Nidovirales, subordem Comidovirineae, família Coronaviridae, subfamília Orthocoronavirinae, género Betacoronavírus, subgénero Sabecovirus (Gorbalenya et al., 2020).

O vírus SARS-CoV-2 possui um genoma unimolecular com RNA simples de sentido positivode 26-32 kb de longitude. A partir desta molécula sintetizam-se as proteínas necessárias para completar o ciclo da replicação. O genoma viral codifica pelo menos 27 proteínas, incluindo 16 proteínas não estruturais equatro proteínas estruturais,das quais as espículas (S), da membrana (M), do envelope (E) e a do nucleocapsídeo  (N). (Fields Virology, 2013; Cui et al, 2015).

Ainda não existe um tratamento específico para as infecções causadas por SARS-CoV-2, porém, há produtos naturais que podem prevenir, aliviar e tratar infecções de origem viral, como é o caso de certas plantas medicinais que produzem metabólitos secundários capazes de agir contra estes agentes infecciosos (Silva et al, 2020).

As plantas medicinais têm sido utilizadas desde tempos ancestrais e actualmente o seu uso continua a verificar-se em todo mundo com maior incidência ali onde a medicina convencional não chega ou em casos que esta não resolve, pois, o seu custo e os seus efeitos adversos são mais reduzidos (Maghranietal., 2005). Grande parte da população mundial, principalmente em zonas rurais, depende amplamente das plantas medicinais para a prevenção e tratamento de diversas doenças; pois, as plantas constituem um elemento indispensável na práctica da medicina tradicional já que são de baixo custo, fácil acesso e de conhecimento ancestral (Ching etal., 2009). As plantas medicinais são de uso imemorável no tratamento de desordens de saúde, na prevenção de várias doenças e inclusive durante as epidemias (Silva e Fernandes 2010), tanto é assim que 80% da população mundial usa este recurso para cuidados primários de saúde e com maior destaque em países em desenvolvimento, onde há escassez de medicamentos convencionais e os sistemas de saúde encontram-se deficitários (Cunha, 2006).

Em um mundo como o actual, mergulhado em uma pandemia com extraordinária repercussão na saúde mundial, existe uma incessante busca de recursos terapêuticos capazes de reverter os efeitos do vírus (SARS-CoV-2), pois, existem plantas medicinais que possuem acções antivirais capazes de poderem fazer frente a este agente infeccioso e aos danos que dele podem advir (Paixão etal., 2020).Estudos realizados por Campos, etal (2019), recomendam que a prática da Medicina Tradicional / Fitoterápica, seja feita de forma complementar e com orientação de profissionais da saúde no combate de doenças, dado que ao comparar-se com os medicamentos alopáticos, os fitoterápicos têm menor incidência de efeitos adversos, além do baixo custo e maior adesão da população. A realização de estudos de eficácia, segurança e o cumprimento das normas de boas práticas no conhecimento fitoterapêutico, garantem o sucesso terapêutico e menor letalidade durante o seu uso (Cunha, 2006).A pandemia, veio a incentivar e a aumentar as investigações sobre plantas medicinais e outras fontes de moléculas biologicamente activas para a sua erradicação. Estudos relatam soluções contendo partes de plantas para o tratamento da Covid-19 em crianças na China; alguns de estes extractos proveêm de plantas como a Scutellaria radix e Artemisia annua, Armeniaca sémen e Coicis sémen, Ephedra e Gypsum fibrosum (Ang et al., 2020). Nesta mesma perspectiva, Deng-Haietal. (2020), realizaram estudos de filtragem fitoquímica de metabólitos secundários em 125 plantas medicinais usadas na medicina tradicional chinesa com potencial actividade contra a COVID-19. Os referidos autores, concluíram que as plantas clássicas usadas no tratamento das infecções respiratórias de origem viral podem conter metabólitos com acção directa sobre o vírus responsável pela pandemia. Por outro, Gyebietal. (2020) realizaram estudos sobre os componentes bioactivos, alcaloides e terpenoides de algumas plantas africanas e demonstraram a inibição da replicação do vírus, pois, estes componentes bioactivos apresentam uma alta afinidade para ligar-se e bloquear a enzima que favorece a replicação do SARS-CoV-2, cuja actividade é comparada à dos medicamentos Lopinavir e Ritonavir, o que demonstra claramente e de forma inequívoca as potencialidades das plantas medicinais e o trabalho profundo que deve ser realizado em busca de bioactivos contra a COVID-19.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foi feita uma revisão bibliográfica narrativa sobreplantas medicinais com actividade antimicrobiana em especial a acção antiviral e com ênfaseàArtemisiassp. A busca de informação decorreu no período de 02 a 15 de Maio de 2020, e utilizou-se para a pesquisa as bases de dados de artigos científicos como (LILACS), ScientificEletrônicLibrary Online (SCIELO), Google académico e NationalLibraryof Medicine (PUBMED).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A revisão bibliográfica demonstrou que as plantas medicinais contêm vários metabólitos secundários com actividade antimicrobiana para a proteção contra agentes agressores como os microrganismos (Cowan, 1999). (Figura 1)

Figura 1. Locais de acção dos metabolitos naturais.
Fonte: Burt, 2004

 

Assim, estas propriedades dependem da existência e concentração de metabólitos secundários como: taninos, saponinas, leucoantocianidinas, alcaloides, flavonóides, antraquinonas, triterpenos, cumarinas entre vários outros; a estes, descrevem-se várias propriedades curativas e acção sobre agentes infecciosos, sejam eles vírus, bactérias, fungos, parasitas e até insectos. São descritos para os taninos condensados, propriedades farmacológicas como antissépticas, antimicrobianas, antifúngicas (Maechaetal., 2007), os flavonoides, triterpenos e leucoantocianidinas apresentam, além de outras propriedades, a actividade antiviral (Wolfenderetal., 2011; Fingoloetal., 2013).


Figura 2. Estrutura dos flavonoides e sua classe.
Fonte: Panche, A.N., etal. (2016)

 

Para os alcalóides são descritas também propriedades antivirais, além de outras como fazem referência estudos de Muñoz e Cuca (2016). Como se pode notar, há relatos sobre a acção antiviral de vários metabólitos secundários encontrados nas plantas medicinais. Por exemplo, plantas como Tephrosiavogelii, Crotonmubango, Crysophyllumargyrophyllum, Psidiumguajava, Eugenia uniflora, Eugenia dysenterica, Cymbopogoncitratus, Artemisiaannua entre outras, possuem vários destes metabólitos, pelo que são promissores para os estudos sobre o tratamento de doenças virais. Estudos realizados por Paixão etal., (2020) mostram que plantas angolanas como por exemplo CrisophyllumargyrophyllumHiem. possuem metabólitos secundários como taninos, aminas primárias e secundárias, fenóis livres, alcaloides, leucoantocianidinas e flavonoides em quantidades abundantes com excepção dos taninos, tanto nas folhas como na casca do caule.

Os flavonoides são capazes de inactivar enzimas que facilitam a sobrevivência de agentes infecciosos, tal como aderir-se ao complexo proteico do agente. Entre outras acções descreve-se a inibição da transcriptase reversa. Os taninos e cumarinicos também apresentam a capacidade para a inactivação de enzimas, interagem com o genoma viral, bloqueiam substratos necessários para o agente infeccioso e intercalam-se em estruturas do genoma (Cowan, 1999). Aos flavonoides são ainda atribuídas várias outras acções farmacológicas como anti-inflamatória, antioxidantes, estrogénica, antiviral, antiespasmolítica e aumento da resistência dos vasos sanguíneos (Cunha, 2006;Simões etal., 2016), actividade antifúngica e antibacteriana são descritas por Liuetal., (2013). As propriedades antivirais, antibacterianas, antidiarréicas e antifúngicas, entre outras, são atribuídas aos taninos, que se encontram em muitas plantas medicinais (Simões etal., 2016).

Estudos recentes mostram também a participação de produtos naturais em processos de imunomodulação como é o caso da Artemisiaspp. (Majdalawieh e Fayyad, 2015), onde se encontra Artemisiaannua, uma planta que dá origem ao preparado que tem sido destaque no país Indico de Madagáscar para a alegada prevenção e tratamento da COVID-19 (DW,2020).

As espécies que fazem parte do gênero Artemisiaspp., compreendem, importantes plantas medicinais que actualmente são objecto de atenção fitoquímica devido à sua grande produção de metabólitos secundários, diversidade química e biológica (Guetatetal., 2017). As espécies do gênero Artemisiaspp., apresentam também uma gama de actividades biológicas, como éo caso da espécie Artemisiaannua, que possui polissacarídeos com actividade antitumoral e é dotada de propriedades imunomoduladoras (Chenetal., 2014).

Estudos realizados por Yangetal. (1993) eXiongetal. (2010)demonstraram que os compostos químicosda Artemisiaannua comosesquiterpenetrioxanelactone, artemisinina, artesunato e dihidroartemisina foram capazes de acelerar a reconstituição imunológica aumentando a produção de DNA e interleucina IL-2 em experimentos in vitroem esplenócitos de camundongos. Outrossim, a artemisina reduz a hipertrofia cardíaca induzida por angiotensina II, sendo avaliado pela inibição da actividade de ligação a NF-kB, mRNA e níveis de expressão de IL-6, TNF-a e MCP-1.

Partindo do pressuposto de que a artemisina inibe o efeito da angiotensina II porinactivação da ACE2 que constitui o principal receptor do SARS-CoV-2 nas células susceptíveis, podemos assinalar que Artemisiaannua, particularmente a artemisina, pode ser um potencial bioactivo para o tratamento da COVID-19.

Este género de planta contém vários metabólitos secundários responsáveis por actividades biológicas diversas, além dos ácidos clorogénicos e ácidos cafeoilquinicos determinados por técnicas cromatográficas (Zamariolietal., 2019). A composição fitoquímica é a que poderá justificar a utilização desta planta em vários processos infecciosos. Nesta direcção, o estudo profundo desta planta, poderá talvez revolucionar o tratamento de várias outras enfermidades como já é o caso da malária, cujo princípio activo é o alcaloideartemisinina em que um dos mecanismos de acção é a alquilação de uma proteína específica do agente (Silva, 2006).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no levantamento realizado, pode-se concluir que existe uma convergência na utilização de plantas medicinais em síndromes respiratórios e outras doenças por possuírem  propriedades farmacológicas, com potencial terapêutico contra alguns tipos de vírus que podem ter actividade directa sobre o coronavirus (SARS-CoV-2) ou o desenvolvimento da COVID-19.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                                                                                                             

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Clínica e Diagnóstico Diferencial da COVID-19

 

Ana Silva Gerardo1; Suzana Costa2; Paula Oliveira3; Iria Palma2; Santos Nicolau2; Vera Falcão4; Edna Quintas5; Edson Mário1,6; Efigenio Ndeiweda1,7

1 Faculdade de Medicina da Universidade Mandume Ya Ndemufayo

2 Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto

3 Faculdade de Medicina da Universidade Katyavala Bwila

4 Clinica Sagrada Esperança

5 Clinica Girasol

6DMS Cacula

7DMS Humapata

8DMS Lubango.

 

 

  1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O QUADRO CLÍNICO DA COVID-19

Apesar do conhecimento científico actualmente disponível e por se tratar de uma patologia de surgimento recente, o domínio da ciência sobre a clínica da COVID-19 não está esgotado (Chen et al., 2020). 

A patogénese e a dinâmica da infecção por SARS-COV-2 estão relacionadas quer com múltiplos factores intrínsecos do hospedeiro, como também com a variabilidade genética do vírus. A compressão desta variabilidade de resposta do hospedeiro à infecção traduzida em infecções clinicamente silenciosas (85-80%), reflectindo provavelmente a capacidade adaptativa dos mecanismos imunológicos, passando por situações clínicas manifestamente identificáveis (ligeiras e moderadas 15 a 20%), podendo estas evoluir para formas graves e potencialmente fatais, constituem na actualidade o mais complexo desafio aos profissionais de saúde, tanto no manuseamento clinico dos doentes (em conformidade com as boas práticas), como na investigação biomédica.

A melhor compreensão sobre a caracterização clínica ajudará os médicos e outros profissionais de saúde a reconhecerem precocemente os pacientes infectados e a prevenir as formais mais graves e fatais da doença. (Zhang, Xu, Li, & Cao, 2020). Por este motivo e de um modo geral, a busca de informação centrada em evidência científica, deve estar em permanente actualização, de modo a contribuir para a melhor compreensão desta variabilidade da resposta à infecção por SARC-COV-2.

 

  1. FORMAS CLÍNICAS DE APRESENTAÇÃO DA COVID-19

A doença pode manifestar-se como uma síndrome gripal discreta ou como uma sobreposição de síndromes aparentando múltiplas etiologias. Pode classicamente assumir-se em forma de infecção respiratória leve, com radiografia torácica normal, pneumonia não-complicada com saturação periférica da oxihemoglobina (SpO2) ainda acima de 90%, ou ainda como uma pneumonia grave com SpO2 igual ou menor a 90% associada a falência de um ou mais órgãos. Em situações mais graves, pode inicialmente ocorrer o envolvimento electivo do pulmão traduzido num Síndrome de Distress Respiratório agudo (SDRA) ou pelo contrário, ser multiorgânico, podendo evoluir para sepsis, shock séptico e falência multiorgânica. (Guan et al., 2020).

 

    3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA COVID-19

O individuo infectado por coronavírus pode ser assintomático, principalmente a criança e o jovem (Lai et al., 2020; Arshi Islam, Naqvi, & Parveen, 2020; Lovato & de Filippis, 2020; Gupta et al., 2020). Nos casos em que se desenvolvem sintomas, o doente pode apenas apresentar as manifestações de uma síndrome gripal, sendo na maioria dos casos leve na primeira semana de infecção. As situações mais graves, podem suscitar internamento em cuidados intensivos (Tu et al., 2020; Tang et al., 2020; Young et al., 2020; Ferrazzi et al., 2020). No geral, ocorre febre que pode ser prolongada ou intermitente, podendo ser acompanhada de calafrios em 83-98% dos casos, mialgia intensa até 44%, astenia e mal-estar geral em 29-69%, anorexia em 40%, tosse geralmente seca entre 57-82%, espirros, rinorreia, dispneia em 31% que tende a instalar-se entre o quinto e oitavo dias da evolução sintomática em cerca de 18-55% dos casos. A faringite com ou sem odinofagia ocorre em 5-17% ocorrendo em geral, no início do quadro clínico (C. Huang et al., 2020; Adhikari et al., 2020; Sohrabi et al., 2020).

 

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MENOS COMUNS

Ao longo de aproximadamente quatro meses da evolução da doença a nível global, as pesquisas científicas vêm revelando significativa variação nas manifestações clínicas, quer as primárias, assim como as secundárias à complicações da doença. Há situações em que as manifestações clínicas podem ter apresentação atípica no que se refere ao quadro habitual da COVID 19, variando entre manifestações neurológicas centrais ou periféricas (cefaleia, tonturas, confusão mental, hipogeusia/ageusia, hiposmia/anosmia); oftalmológicas (conjuntivite); cutâneas; coagulopatias, cardíacas (miocardite fulminante); gastrintestinais (diarreia, náuseas e vómitos); toracalgia. O exame físico evidenciará sinais de acordo com a forma de apresentação (Burke, 2020; Surveillances, 2020). Está também descrito o envolvimento de outros aparelhos e sistemas, resultando em quadros de hepatite, peritonite infecciosa, nefrite e pancreatite (Zeng et al., 2020; Pautrat & Chergui, 2020; Azwar, Kirana, Kurniawan, Handayani, & Setiati, 2020; D’Amico, Baumgart, Danese, & Peyrin-Biroulet, 2020; Han et al., 2020).

 

  3.1. RESPOSTA IMUNO TROMBÓTICA ASSOCIADA A COVID-19 (RITAC)

Novos estudos (Vardhana & Wolchok, 2020) mostram que os pacientes infectados com COVID-19 que se agravam rapidamente apresentam dados clínicos e laboratoriais compatíveis com a Síndrome de Activação Macrofágica (SAM), sendo muitos deles, adultos jovens aparentemente saudáveis. Tudo indica que parece haver uma resposta imune exagerada, chamada de tempestade imunológica, responsável por este agravamento com desfecho fatal, em que se observa: proliferação incontrolada das células T, activação excessiva dos macrófagos e hipersecreção de citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina (IL) IL-1 b, IL-6, o interferon e o factor de necrose tumoral a (TNFa) (Astuti & Ysrafil, 2020; Felsenstein, Herbert, McNamara, & Hedrich, 2020; Lu et al., 2020; Ren et al., 2020).

Estes pacientes com critérios de diagnóstico de RITAC (figura.1) podem apresentar:

  1. D-Dímero > 1000 ng/mL,
  2. Ferritina > 500ng/mL (sendo a hiperferritinemia o melhor indicador da presença de resposta imune exagerada),
  3. Dispneia de rápida progressão,
  4. Hipoxemia refratária,
  5. Fenómenos trombóticos,
  6. Shock.

A resposta macrofágica descontrolada que estes pacientes apresentam deve-se a activação patológica da trombina que resulta em múltiplos episódios trombóticos que vão desde a isquémia periférica, o tromboembolismo pulmonar e a coagulação intravascular disseminada (Giannis, Ziogas, & Gianni, 2020; Griffin et al., 2020; Michael Henry, Vikse, Benoit, Favaloro, & Lippi, 2020; Saba & Sverzellati, 2020).



Figura.1- Fisiopatologia da RITAC

Fonte: Sociedad Española de Trombosis y Hemostasia. https://www.seth.es/index.php/noticias/noticias/noticias-de-la-seth/1588-coagulacion-dimero-d-y-covid-19.html.

 

   4. DIAGNÓSTICO DA COVID-19

O diagnóstico deve ter em conta a história epidemiológica do doente (história de viagem à local com circulação comunitária do vírus, contacto com um caso provável ou confirmado), assim como o contexto sanitário em geral. Esses dados, devem ser associados a manifestações clínicas e aos resultados de exames complementares de diagnóstico do paciente. Tratando-se de casos com sintomas inespecíficos ou atípicos, o contexto epidemiológico assume um destaque fundamental, no diagnóstico presuntivo.



Figura 2: Evolução clínica típica da infecção por SARS-COV-2

Fonte: www.thelancet.com/respiratory, Vol 8  July 2020 - Curso clínico típico, detecção da Rt-PCR viral e de anticorpos antivirais. Infecciosidade da infecção grave por SARS-CoV-2 e início dos sintomas. As barras e curvas sólidas representam a proporção de todos os casos. O tempo zero é o início dos sintomas. Esses dados são representativos da população de 16 a 20% dos quais provavelmente precisarão de internamento na UTI = unidade de terapia intensiva.[1]
[1] Os dados da linha do tempo são dos dados locais dos autores e das séries de casos publicados (Guan  et al, 2020; Zhao et al., 2020; Wölfel et al., 2020; Yang et al, 2020).

 

   5. SITUAÇÕES ESPECIAIS, COMORBIDADES E A COVID-19

A grávida merece abordagem específica conforme protocolo. Crianças, em situação de maior gravidade, podem apresentar eritema faríngeo e polipneia mas, de igual modo, como na grávida, devem beneficiar de abordagem particular. Os idosos e/ou doentes com patologias que deprimam a imunidade, tais como: diabéticos, insuficientes cardíacos e/ou renais, doença hepática crónica, doentes transplantados, portadores de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), com imunodeficiência humana adquirida, hipertensos, obesos, com patologia auto-imune, antecedentes recentes de grandes cirurgias, neoplásicos, portadores de doença coronária, são mais susceptíveis de infecção grave e a desenvolverem lesão renal aguda. (Chen et al., 2020; Wang et al., 2020; Ning et al., 2020; J. F. Huang et al., 2020; Adhikari et al., 2020; Bartiromo et al., 2020; Sohrabi et al., 2020). Nesses casos, para além das manifestações da COVID-19, outras inerentes a patologia de base, estarão presentes.

   6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA COVID-19 COM OUTRAS INFECÇÕES DO TRACTO RESPIRATÓRIO.

O quadro da infecção por SARS-CoV-2, varia entre os indivíduos infectados desde o assintomático, o sintomático leve, moderado até ao grave. Bactérias e outros vírus que afectam trato respiratório, também cursam com sintomas inespecíficos, na maioria dos casos autolimitados, mas que podem acometer outros aparelhos para além do respiratório e progredirem para condições severas. Tudo isto torna fundamental a conciliação da história epidemiológica do doente com as manifestações clínicas e com os exames complementares de diagnóstico, de modo a garantir um diagnóstico diferencial orientador (Bordi et al., 2020).

   7. SITUAÇÕES QUE FAZEM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL COM A INFECÇÃO CAUSADA POR SARS-COV-2.

A grande variabilidade do quadro clinico da infecção por SARS-CoV-2 obriga ao profissional de saúde a considerar a possibilidade da COVID-19, no actual contexto de pandemia, como uma das hipóteses de diagnóstico diferencial, em todos os doentes, com manifestações clínicas de evolução aguda e/ou agravamento de uma doença preexistente, que ocorram ao serviço de urgência médica, com história epidemiológica sugestiva e exames complementares que traduzam fundamentalmente uma resposta inflamatória à infecção.

      7.1. Outros coronavírus humanos conhecidos

 O alfa-coronavírus 229E (HCoV 229E) e NL63 (HCoV NL63) e o betacoronavírus OC43 (HCoV OC43) e HKU1 (HCoV HKU1) causam efeitos semelhantes, porém com sinais clínicos mais leves. O SARS-CoV e MERS-CoV, ao contrário dos referidos no ponto anterior, apesar de causarem quadros semelhantes, evoluem para síndrome respiratória aguda. No MERS-CoV, os sintomas gastrointestinais e do trato respiratório superior parecem ser menos comuns que na COVID-19.

      7.2. Outros vírus comuns ao trato respiratório

Os sintomas resultantes da infecção por influenza A ou B e por adenovírus também fazem igualmente o diagnóstico diferencial com os da infecção por SARS-CoV-2. Porém no geral, estas causam sintomas respiratórios de vias aéreas inferiores, apesar de também ocorrerem sintomas de vias aéreas superiores. O adenovírus, o bocavírus, o metapneumovírus humano (HMPV) e o rinovírus são os patógenos que, com mais frequência, estão associados aos sintomas do resfriado comum e que causam, aproximadamente, metade de todas as rino-sinusites virais agudas. Contudo, a dispneia, a febre alta e a evolução para situações graves e críticas, exigindo oxigenoterapia e suporte ventilatório, constituem a principal diferença clínica entre a COVID-19 e os vírus do trato respiratórios referidos.

Outros vírus como vírus sincicial respiratório (VSR) e o parainfluenza 1–2-3–4 (PIV 1–4) estão também implicados numa dimensão etiológica significativa de resfriado comum e também fazem diagnóstico diferencial, em dependência do contexto epidemiológico e dos resultados de testes realizados.

      7.3. Bactérias mais comuns que causam síndromes respiratórias

A infecção por Bordetella pertussis, por Legionella pneumophila e por Mycoplasma pneumoniae deve ser suspeitada em grupos de pacientes com pneumonia que evoluem para situações clínicas mais severas. A realização de exames culturais ou de testes moleculares, ajudarão na determinação do agente causal.

      7.4. Tuberculose pulmonar

Principalmente em pacientes imunocomprometidos, diferencia-se clínica e epidemiologicamente da COVID-19, por evoluir com sintomas mais arrastados e cardinais da doença como: sudorese nocturna e perda de peso. As lesões observadas ao RX torácico, no geral, são típicas em localização e estrutura. A baciloscopia será positiva (Dai et al., 2020; Zu et al., 2020).

Na gestão do diagnóstico diferencial, em função do contexto epidemiológico, em algumas situações, pode ter que considerar-se a possibilidade de ocorrência de co-infecções. A realização de exames complementares apoiará na melhor definição do diagnóstico etiológico.

    8. EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO

Dado o alto grau de contagiosidade do SARS-CoV-2 e o elevado impacto negativo que a COVID-19 representa, os exames que confiram o diagnóstico de certeza, são cruciais.

       8.1. EXAMES LABORATIAIS PARA O DIAGNÓSTICO DA COVID-19

O diagnóstico da COVID-19 baseia-se em critérios clínico-epidemiológico e laboratorial (WHO,2020). O diagnóstico definitivo de infecção pelo novo Coronavírus (COVID-19) é estabelecido com base no resultado positivo no teste da reacção em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR), independente dos sintomas e sinais (Who,2020, Sundararaj et al, 2020).

A RT-PCR, um teste molecular, é amplamente utilizada como padrão de ouro (gold standard) para o diagnóstico de COVID-19. Detecta o ácido nucleico do SARS-CoV-2, em tempo real, a partir de amostras da secreção nasofaríngea, aspirado traqueal e lavado brônquico, é mais sensível e específico que os restantes métodos. Os falsos negativos são escassos e permitem o diagnóstico de infecção activa (Sohrabi et al., 2020); (Reusken et al., 2020). Resultados falso-negativos são possíveis devido a vários factores, relacionados com a colheita de amostras no estádio inicial da doença, outros relacionados com a obtenção da amostra, com o armazenamento ou transporte inadequado, além de razões inerentes ao próprio teste e as mutações virais (Zhao et al, 2020). Perante a suspeita clinica o resultado negativo não afasta a hipótese, sendo necessária a repetição do exame em outra amostra após alguns dias (Mayara et al.,2020; Xiaowen Hu et al, 2020; Sundararaj et al, 2020) (Figura.3).

Os testes sorológicos (não moleculares) têm criado interesse substancial como alternativa ou complemento ao RT-PCR no diagnóstico de infecção aguda, pois alguns podem ser mais baratos e mais fácies de implementar sobretudo nos níveis de atenção primária. Uma clara vantagem desses testes sobre o RT-PCR é que podem identificar indivíduos previamente infectados pelo SARS-CoV-2, mesmo que não tenham sido previamente testados enquanto permaneciam gravemente doentes (Mayara et al.,2020; Xiaowen Hu et al, 2020). Considera-se vantajosa a utilização dos testes sorológicos como ferramenta na vigilância epidemiológica, para melhor entender a epidemiologia da SARS-CoV-2. Contudo, o ritmo de desenvolvimento e comercialização dos testes sorológicos excedeu o da avaliação científica rigorosa, permanecendo desse modo a incerteza sobre a precisão dos referidos testes. (Mayara et al.,2020; Xiaowen Hu et al, 2020).



Figura.3. Variação temporal dos testes de diagnóstico

Fonte: Sundararaj et al (2020), 2020 American Medical Association
https://jamanetwork.com/ on 05/12/2020

 

       8.2. OUTROS EXAMES LABORATORIAIS AUXILIARES AO DIAGNÓSTICO

Gasometria arterial

Está indicada para pacientes com dispneia, cianose e SpO₂ <90%). As alterações serão em dependência do grau de acometimento da função respiratória.

Hemograma

As alterações mais comuns incluem leucopenia, linfopenia, trombocitopenia e baixa de hemoglobina (Fu, Xu, & Wei, 2020; Lippi, Plebani, & Henry, 2020; Adhikari et al., 2020; Guan et al., 2020)

Coagulograma

O D-dímero poderá estar elevado e poderá ocorrer prolongamento do tempo de protrombina. O perfil metabólico irá revelar transaminases elevadas, hipoalbuminemia, elevação da creatinina. A creatinina quinase (CPK) e a troponina sérica, estarão aumentadas. A proteína C-reactiva (PCR) estará igualmente elevada e doentes com sobreinfecção bacteriana. A desidrogenase láctica indica lesão hepática ou lise eritrocitária (Guan et al., 2020; Lei, Li, Li, & Qi, 2020).

Hemoculturas e culturas da expectoração

Estão indicadas para todos os pacientes graves e com indicação de descartar outras causas de infecção do trato respiratório, principalmente quando a história epidemiológica é inespecífica.

 

   9. INDICADORES DE MAU PROGNOSTICO

Podem considerar-se os seguintes aspectos:

  • A associação de baixa imunidade e elevada replicação do vírus no aparelho respiratório inferior é um valor preditivo de mau prognóstico.
  • A trombocitopenia está associada a um aumento do risco de doença grave e mortalidade e pode ser útil como um indicador clínico para monitorizar a progressão da doença;
  • Idade avançada;
  • Consumo crónico de tabaco;
  • Comorbidades
  • Evolução com complicações graves.

 

   10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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