Principais conclusões e recomendações das mesas redondas do segundo Fórum de Diálogo Ciência/Sociedade – Huíla 2024
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O Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e o Programa UNI.AO, em colaboração com o ISCED Huíla, Universidade Mandume ya Ndemufayo e o Instituto Superior Politécnico Tundavala, realizaram nos dias 05, 06 e 07 de Junho de 2024, no Lubango, o Segundo Fórum de Diálogo Ciência/Sociedade, com o tema “A transição energética ao serviço de uma diversificação económica inclusiva e sustentável”. O Fórum visou reflectir sobre as principais formas e canais de interacção entre o mundo académico e a sociedade, os principais obstáculos e desafios existentes nesta relação, e apoiar na criação e a implementação de uma plataforma formal de articulação entre as IES, as empresas privadas, a sociedade civil e os organismos públicos locais.
A Programação do fórum contemplou, dentre outras actividades, a realização de quatro Mesas Redondas, dos quais resultaram as seguintes recomendações:
Recomendações Mesa Redonda 1:
Transição Energética e Educação: Desafios e Perspectivas para o Ensino Superior em Angola
- Que a transição energética não se dissocie da química verde e, por isso, deve-se fazer melhor aproveitamento do hidrogénio verde;
- Que a abordagem sobre a transição energética passe de um nível micro para um nível macro;
- Que sejam estreitados os laços entre a academia, governo e indústria para a promoção de projectos no âmbito da transição energética;
- Que as Instituições de Ensino Superior trabalhem nos seguintes eixos fundamentais: revisão Curricular, formação de professores e extensão universitária, para promoção da preservação ambiental, no processo de transição energética;
- Que se formem professores do Ensino Primário com competência em educação ambiental, direitos humanos, empreendedorismo e diversidade;
- Que as instituições do Ensino Secundário formem quadros profissionais e técnicos que, concomitantemente, desenvolvam uma consciência crítica sobre o ambiente;
- Que se criem universidades qualificadas para que o nível de informação teórica esteja fortemente ligado à prática;
- Que a relação de cooperação entre as instituições de ensino e as empresas não seja apenas responsabilidade do ministério, mas também das próprias instituições;
- Que os recursos humanos estejam qualitativamente capacitados para responder à exigência das novas grelhas curriculares;
- Que os projectos de extensão universitária sejam feitos com a comunidade, e não só para a comunidade, no que toca, principalmente, aos aspectos ligados à biodiversidade.
Recomendações Mesa Redonda 2:
Integração de Energia Sustentável e Inovação Tecnológica no Desenvolvimento Rural: Desafios e Estratégias para a Adopção de Práticas Sustentáveis e Inclusivas
- Desenvolver modelos adaptáveis de distribuição de energia, como, por exemplo, mini redes e sistemas solares autónomos, adaptados às necessidades locais, considerando a dispersão das populações rurais.
- Fomentar mais a colaboração entre o governo, ONGs, Empresas (privadas e públicas), instituições de ensino e comunidades locais;
- Promover programas de cooperação internacional para transferência de tecnologia e conhecimento;
- Investir em programas educativos para comunidades rurais sobre a importância e manutenção de sistemas de energias sustentáveis;
- Realizar campanhas de sensibilização para prevenir vandalização e roubo de equipamentos (Painéis solares, baterias, cabos, etc.);
- Implementar políticas que envolvam activamente as mulheres na gestão e uso de tecnologias energéticas, e particularmente as mulheres rurais;
- Criar políticas públicas com financiamento garantido e desenvolver incentivos fiscais e subsídios para facilitar a implementação de tecnologias de energias sustentáveis nas áreas rurais;
- Prover suporte técnico contínuo para manutenção e expansão dos sistemas instalados nas zonas rurais;
- Incentivar a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias energéticas adaptáveis aos contextos rurais de Angola;
- Implementar projectos-piloto em diferentes regiões para identificar as melhores práticas e tecnologias, incluindo mecanismos de monitoramento e avaliação numa perspectiva de melhoria contínua.
Recomendações Mesa Redonda 3:
Transição Energética Justa: Caminhos para Energia Limpa e Acessível em Angola
- Desenvolver pequenos projectos, mas em grande escala, que vão ao encontro da realidade das sociedades (campo e cidade) de modo a resolver problemas específicos de cada contexto. Redes OffGrid são um bom exemplo.
- Investir na instalação dos Kits solares por estes serem as fontes de energia de transição mais simples, mais maduras em termos tecnológicos e com menos custos associados, e de fácil manutenção, quando comparado com outras fontes de energia.
- A acessibilidade energética tem um grande impacto quando se pretende criar condições para atrair professores, profissionais de saúde e outros profissionais nas zonas rurais. Assim, garantir o acesso à energia nessas zonas, tende a promover o desenvolvimento local, e contribui para a diminuição da deslocação da população para as zonas urbanas.
- Introduzir sistematicamente nos currículos do Ensino Superior à disciplina de educação ambiental com cronograma de gestão de florestas. É importante apresentar soluções que se enquadrem à realidade socio-cultural de algumas regiões onde a biomassa é a fonte principal de energia. Investir na literacia, para que os sistemas sejam mais eficientes, o impacto no ambiente seja menor, e o impacto social e económico seja mais vincado.
- A indústria petrolífera continuará a ser um sector importante para o desenvolvimento do país. Conta-se também como mais uma fonte de renda que servirá para financiar a transição energética. O sector petrolífero está alinhado com os objectivos do desenvolvimento sustentável e com os objectivos da descarbonização, a serem alcançados até 2050.
- Investir na formação, dinamização e viabilização das oportunidades tecnológicas no sector rural tendo em conta a transição energética. O gado, uma importante riqueza das comunidades, oferece a oportunidade de substituir ou complementar as energias provenientes da biomassa vegetal, através biodigestores que utilizam os dejectos animais para produzir energia.
Recomendações da Mesa Redonda 4:
Transferência das Inovações Tecnológicas para a Sociedade
- Clarificar a distinção entre laboratório de Investigação; laboratório de Ensino e laboratório de Inovação. Um primeiro passo seria a definição clara das especificações de cada tipo e, num segundo momento, de uma certificação associada. Permitiria facilitar a identificação de potenciais parceiros;
- Integrar sistematicamente a(s) comunidade(s) desde o início do processo de inovação (através de medidas como investir no capital humano local, ou integrar as autoridades locais e tradicionais nos órgãos de pilotagem dos projectos);
- Promover a pluridisciplinaridade, e as ciências humanas, particularmente, para conhecer/entender melhor o contexto de implementação dos resultados da inovação, as dinâmicas socioeconómicas impactadas pela inovação e os grupos sociais e indivíduos constituindo os clientes/beneficiários;
- Financiar projectos que incluam a parte de Desenvolvimento (I&D), e não somente investigação para não deixar a oportunidade de transformar novos conhecimentos produzidos em perspectivas concretas de utilização;
- Promover e institucionalizar uma forma de Doutoramento co-financiados pelas empresas, com objectivos académicos discutidos numa perspectiva de responder às necessidades do sector produtivo;
- Para responder ao desafio claramente identificado da falta de confiança entre empresas e IES, que se possam providenciar mais eventos permitindo aprofundar o diálogo intersectorial, tal como este Fórum.