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Portal Ciencia.ao

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As Ciências Sociais no Império da Opinião (Ciência para quê?)

O processo de revolução dos meios de comunicação, e a preponderância destes nas formas de socialização, inaugurou novas formas de acção, moldadas pelo acesso aos mais variados tipos de informação. A Idade Mídia (RUBIM, 2000), com seu leque de informação, propiciou o surgimento de um novo sujeito: o “opinador“, visualizado pelas tecnologias de mídia. Enquanto o cientista leva horas do dia e anos da vida a estudar um mesmo assunto, o “opinador” é capaz de falar da formação das nuvens à organização das sociedades no Egipto antigo. 

Estudos de Psicologia vêm mostrando que processamos informação através de “atalhos cognitivos”, esquemas que auxiliam nossas escolhas sem a necessidade de uma reflexão profunda sobre determinados assuntos. Entre esses atalhos, encontram-se os estereótipos e os papéis sociais. De acordo com as teorias do comportamento eleitoral, também é assim que votamos, através de “atalhos cognitivos” (ai que dó). Beaudoux entre outros (2005) dizem que: “los seres humanos tratamos de invertir el menor esfuerzo posible en la busqueda de la información”. Nesse sentido, o conhecimento costuma exigir mais esforço e cuidado do que a mera opinião: vai pelos caminhos longos, buscando fugir dos atalhos. A racionalização, premissa básica de todo método que se pretenda científico, leva ao desencantamento, de modo que o cientista, muitas vezes, chega a informações não tão confortáveis. Se conseguimos viver apenas com a informação, processando-a através de atalhos (geralmente pra confirmar o que já se pensa), poderíamos nos perguntar: Ciência para quê? Não chegamos a um momento da história em que uma ciência social é completamente desnecessária? O mundo de informações ao qual temos acesso e a autocracia da opinião pessoal levariam a crer que sim. E justamente, por isso, faz-se mister a Ciência. Umberto Eco disse, uma vez, que “informação demais é pior do que a falta de informação”. As condições de emergência da assertiva remetem ao contexto contemporâneo, no qual as informações são amplamente partilhadas, via mídias novas e tradicionais. Voltando a Eco, não seria a ignorância, em si, um mal maior? A dúvida surge porque o excesso de informação impede de ver que ele não afasta, necessariamente, da ignorância: pode ser usado para difundir inverdades, imprecisões, obscurecer versões da história que não conseguiram o status de notícia. Muita informação, às vezes, pode significar pouco conhecimento. 

Vale lembrar que a mídia tem uma linguagem e gramática próprias, portanto, nem tudo é exactamente noticiável. E, apesar da interacção permitida pelas redes sociais, estas não deixam de ser, também, instrumentos de reprodução das mídias tradicionais. Ademais, a retórica, essa “loba em pele de cordeiro” dos debates públicos, anda ousada com o advento da Internet: defende a redução da maioridade penal, afirmando que é preciso haver punição contra os crimes praticados (como se essa punição não existisse nem fosse prevista na nossa lei); quer a destruição dos partidos políticos (ocultando o facto de que isso é próprio das ditaduras); prega a redução de direitos falando em bondade. Como lembra Shakespeare, em O Mercador de Veneza, “o diabo pode usar as escrituras quando lhe convém”. Dito isto, cabe afirmar que o cientista social tem um papel ainda maior na “Idade Mídia”: mostrar que o conhecimento não se reduz à informação (e, muito menos, não se reduz à informação não questionada). 

Julgo importante ressaltar quatro papéis fundamentais das Ciências Sociais: 1)Permitir o acesso ao conhecimento da realidade social; 2)Escapar do determinismo; 3)Ampliar a possibilidade dos indivíduos; 4)Soltar-nos das amarras da aparência. Sobre esses papéis, importa dizer:

1) A Ciência permite sair da mera opinião, dos pré-conceitos e preconceitos. O questionamento do que é naturalizado, a busca da “história social dos problemas” (BOURDIEU, 1989), permite a ruptura com o senso comum: mostra que a realidade é sempre mais complexa do que nossas abstracções. Contrastar os dados da realidade social e o resultado de pesquisas empíricas com a nossa opinião é um modo poderoso de escapar dos perigos do “achismo”. 

2) O estudo das causas históricas e sociais dos problemas, deixou, a partir dos clássicos da Sociologia, uma importante herança para a produção de sociedades mais igualitárias: o social é construção. Escapar do determinismo é uma forma também de escapar de estereótipos e do que nos é imposto como papel social.

3) Se da desigualdade de classes aos papéis de género, tudo é construção social, somos relativamente livres para elaborar novas sociedades com menor opressão.

4) Esse item se refere à importância do levantamento de dados e à busca de teorias que capacitem o olhar para entendê-los. As informações divulgadas pela mídia permitem chegar até os dados levantados por cientistas, mas é a Ciência que leva aos “como” e aos “porquês”, ou seja, à compreensão. Um conhecimento científico leva à busca de outro, à necessidade de um “referencial teórico”. Não se deixa estagnar por convicções. 

O quarto e último dos papéis das Ciências Sociais, elencados aqui, o qual retroalimenta os outros, é o sentido de existir de todas as ciências. Em resumo, a Ciência é necessária porque nossos sentidos são ardilosos: lembram do caso recente da cor do vestido? Nesses dias de império da opinião, recordo a famosa frase de Marx: “se a aparência e a essência das coisas coincidissem, toda ciência seria supérflua”.

 

Autora: Joyce Miranda Leão Martins – Socióloga e Mestre em Sociologia pela UFC. Doutora em Ciência Política pela UFRGS. Investigadora-visitante na Universidad Complutense de Madrid (UCM).

 

Fonte: https://cafecomsociologia.com/as-ciencias-sociais-no-imperio-da/

 

14.º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Portuguesa

  • Publicado em Eventos

A Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH), a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), a Associação Cabo-Verdiana de Recursos Hídricos (ACRH) e a Associação Aquashare Moçambique informam que o 14.º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Portuguesa realizar-se-á de 16 a 20 de Setembro de 2019, na Biblioteca Nacional da Cidade da Praia, Cabo Verde, sob o lema “SILUSBA 25 anos construindo a Comunidade da Água da CPLP”.

O 14.º SILUSBA pretende viabilizar a passagem do conhecimento à prática, reforçando a capacitação e empresarialização, dando alguma formalidade institucional à nossa “Comunidade da Água” para termos uma voz privilegiada junto da CPLP. 

As temáticas passarão pelos desafios de cada país quer sejam relacionados com a escassez de água, como está a ocorrer em Cabo Verde, quer com cheias, poluição da água e degradação dos ecossistemas, governança e aplicação da legislação, como em São Tomé e Príncipe com a sua nova Lei da Água de 2018.

Esta 14.ª Edição do SILUSBA contará com uma diversidade de sessões especiais, plenárias e mesas redondas, em torno de tópicos identificados por cada um dos países. Pretende-se, deste modo, organizar de forma solidária e inclusiva, os diversos momentos de debate, de construção e de proposta de soluções.

 

Inscrições

Até 30 de Junho: associados 280 €, não associados 380 €, estudantes 100 €, Jovens Profissionais 100 €;

Depois de 30 de Junho: associados 350 €, não associados 480 €, estudantes 120 €, Jovens Profissionais 120 € 

 

Para mais informação, consulte: http://www.aprh.pt/14silusba/ 

Jornadas Europeias de Investigação e Inovação 2019

  • Publicado em Eventos

A Comissão Europeia realiza, de 24 a 26 de Setembro do corrente ano, no Centro Pompidou, em Bruxelas, as Jornadas Europeias de Investigação e Inovação, um evento político anual que reúne líderes mundiais da indústria, finanças, universidades e empresas para debater e moldar o futuro cenário de investigação e inovação.

As Jornadas visam mobilizar os cidadãos da União Europeia (EU) e aumentar a consciencialização e compreensão da importância da investigação e inovação na abordagem dos desafios que a sociedade enfrenta. Será uma celebração da melhor investigação e inovação que UE tem para oferecer.

São oradores destas Jornadas, ministros, comissários, membros do Parlamento Europeu, investigadores e outros convidados.

O evento será fundamental para encontrar soluções de investigação e inovação para essa grande transição, trabalhando em todas as políticas, definindo a direcção, estimulando a inovação, accionando o investimento e mobilizando cidadãos e utilizadores finais.

Proporcionará também uma importante oportunidade para as principais partes interessadas introduzirem ideias no planeamento estratégico geral para o futuro Horizonte Europeu. Esta é a proposta da Comissão Europeia para o próximo programa de investigação e inovação da UE (2021-2027), com um orçamento proposto de 100 mil milhões de euros.

 

Público-alvo

As Jornadas Europeias de Investigação e Inovação têm como público alvo: formuladores de políticas de alto nível, decisores corporativos, movimentadores de tecnologia, fabricantes e agitadores, investigadores, inovadores.

 

Para mais informação, consulte: https://ec.europa.eu/info/research-and-innovation/events/upcoming-events/european-research-and-innovation-days/about-european-research-and-innovation-days_en

Aberto o Edital para Financiamento de Projectos de Investigação Científica do SASSCAL

O Centro da África Austral para Ciência e Serviços para Adaptação às Alterações Climáticas e Gestão Sustentável dos Solos (SASSCAL) informa que estão abertas, até ao dia 16 de Agosto do corrente ano, as candidaturas para o financiamento de projectos de investigação.

O financiamento resulta de uma iniciativa do Ministério Federal da Alemanha de Educação e Pesquisa (BMBF) que visa financiar actividades de investigação que auxiliem no desenvolvimento do capital humano requerido e apoiam o desenvolvimento de ferramentas de tomada de decisão para a acção futura orientada e fornecimento de soluções inovadoras para uma sociedade e economia sustentáveis em regiões-chave, que são severamente afectadas pelas mudanças climáticas. A África Austral é uma dessas regiões-chave. 

A estratégia do BMBF para África visa a cooperação com parceiros africanos para enfrentar desafios globais, estabelecer infra-estruturas científicas sustentáveis de alta qualidade, fortalecer a colaboração regional e continental, desenvolver potencial inovador e novos mercados e aumentar a visibilidade da Alemanha como parceiro fundamental para África na educação e investigação científica.

O objectivo geral deste edital é de fornecer insumos científicos para a estrutura de investigação estratégica do SASSCAL, que se baseia nas conquistas da sua primeira fase e está alinhada ao mandato da instituição. O quadro de investigação SASSCAL aborda as necessidades e imperativos da investigação regional no contexto da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, do Acordo de Paris, da Visão e Plano de Acção da UA 2063, das iniciativas africanas de investigação de mudança global, das políticas nacionais, bem como das várias acções da SADC, planos de desenvolvimento, especialmente em ciência, tecnologia e inovação, e em mudanças climáticas.

O SASSCAL identificou cinco áreas prioritárias de investigação (RPAs) para as quais o Plano de Ciência SASSCAL fornece a estrutura para investigação, capacitação, desenvolvimento de produtos e prestação de serviços:

  • Segurança Alimentar
  • Segurança da Água
  • Conservação da Biodiversidade
  • Florestas e Florestas Sustentáveis
  • Provisão de Serviços Climáticos

O financiamento estará disponível no período 2019-2023. Os projectos de investigação devem ser concebidos para um período de 36 meses.

 

Para mais informações, baixe aqui os termos de referência.

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